Falta de mão de obra especializada preocupa setor empresarial
Qualificação dos trabalhadores garante competitividade e reduz desigualdades
A formação e a qualificação da mão de obra no Brasil é um desafio que impacta o mundo do trabalho e das empresas. A falta de trabalhadores especializados já atinge alguns setores da economia e causa preocupação. O tema foi debatido neste sábado, dia 30, no III Congresso Nacional e I Internacional do Magistratura do Trabalho realizado em Foz do Iguaçu, durante o painel Desafios para a Formação e Qualificação da Mão de Obra no Brasil.
Mediado pela professora e advogada Any Avila Assunção, o painel contou com a participação de Joel Contente, Diretor Administrativo da Brasil Terminal Portuário (BTP), de Lívia Campos Dantas Nemes, Assessora Chefe Jurídico do SEST/SENAT e de Anna Waehneldt, Diretora de Educação do SENAC – Departamento Nacional.
Na condição de mediadora, Any definiu a formação e a qualificação da mão de obra como um dos pilares fundamentais para a competitividade econômica e a redução das desigualdades sociais.
“Existe no nosso país um grande descompasso entre a formação educacional e as demandas e exigências do mercado de trabalho”. Para ela, essa realidade não só ameaça, mas também prejudica e vulnerabiliza o trabalhador.
Na sua exposição, Joel Contente fez um apanhado histórico da evolução do trabalho, destacando transformações fundamentais como a Revolução Industrial, e a aceleração das mudanças tecnológicas no trabalho nos dias atuais. “A cada 12 horas o conhecimento muda, conforme estudos”.
Neste contexto, ele abordou o anteprojeto de Lei da CEPORTOS. Para Contente, a proposta qualifica o trabalhador e oferece alternativas para o trabalho com o OGMO que quando bem gerido tem bom funcionamento.
Contente também chamou atenção para o cenário atual do ensino profissional marítimo portuário no qual 2,5% do total recolhido hoje é direcionado para um fundo da Marinha.
No entanto, do total arrecadado apenas 4% a 5% é aplicado em treinamento. “Isso mostra que é um modelo esgotado dadas as necessidades e demandas que o setor produtivo pede”, afirma.
Ele reforça a necessidade de atualizar o conteúdo pedagógico da formação profissional e enfatiza a proposta do anteprojeto de direcionar o percentual de 2,5%, que vai para a Marinha, para o SEST/SENAT.
“Nós vemos esse encaminhamento como uma terceira abertura dos portos brasileiros”, frisa.
Com experiência no sistema de transporte, Lívia Campos trouxe um panorama sobre a atuação do SEST/SENAT no país.
Ela diz que o SEST/SENAT tem parcerias com instituições, universidades e cursos gratuitos para o setor e hoje impacta mais de 5.300 municípios brasileiros com atendimentos 100% gratuitos.
Lívia elencou alguns desafios na formação e qualificação da mão de obras no Brasil. Deficiência na formação da educação básica, baixa oferta de educação profissional e técnicas de nível médio, mudanças tecnológicas e a Economia 4.0, desigualdades regionais e sociais e desalinhamento entre educação e mercado de trabalho.
Outra preocupação é em relação ao risco de escassez de mão de obra qualificada e a falta de motoristas, mecânicos e gerentes operacionais no mercado.
Segundo ela, uma pesquisa indicou que há um total de 45% de empresas com vagas disponíveis para motoristas, das quais 38% têm mais de 5 vagas e não conseguem contratar.
O motivo é que mais de 46% dos profissionais têm pouco tempo de experiência na atividade. “Como um empresário vai colocar um veículo caríssimo na mão de profissionais sem experiência?”
Outro problema, diz, é que os jovens não estão mais interessados em se especializar nesse tipo de profissão. Lívia também destacou os investimentos feitos na educação técnica e aprendizagem profissional voltada para a qualificação de PCDs com excelentes resultados.
No encerramento do painel, a Anna Waehneldt abordou os avanços da educação profissionalizante no Brasil enfatizando que historicamente no país é muito recente a possibilidade de fortalecer os cursos técnicos.
Ela destacou a criação dos institutos federais em 2008 e lembrou que a reforma do Ensino Médio colaborou com o aumento dos cursos técnicos integrados no país.
Anna ainda ressaltou que este ano surgiram vários decretos focados no fortalecimento dos cursos técnicos. “Há uma curva ascendente de alunos no ensino técnico em razão desse movimento, além de uma curva crescente de aumento de jovens aprendizes”, afirma.
Atualmente, o SENAC atende cerca de 2 milhões de CPFs por ano e vem propondo mudanças em leis e políticas públicas.
Entre os desafios na ótica dela estão: baixos índices de participação dos jovens na educação profissional em relação ao cenário internacional, revolução tecnológica 4.0 – amplas mudanças no mundo do trabalho e implantação do Novo Ensino Médio
Como solução para o problema, o SENAC propõe ampliar as ofertas de ensino médio com o técnico de modo inovador e ainda inovar processos e gestão orientada a dados.
O Congresso é realizado pela Associação Brasileira dos Magistrados do Trabalho (ABMT) em parceria com a Academia Brasileira de Formação e Pesquisa (ABFP).
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